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José Maria José – MaZé



Enquanto, José observava as estrelas, ele se lembrou de quando era bem pequeno e sua irmã, Maria, um pouco mais velha, lhe contou os segredos da noite. José caminhava pra casa. E em seu descanso noturno, aproveitou para com a iluminação farta das estrelas ler o seu livro favorito. Um livro antigo, severino, que ele havia pego escondido de seu irmão mais velho, José Maria, um homem que tinha sido tão bom e que ele tanto gostava.

José Maria já estava morto há mais de um ano. E nessa volta, o irmão mais novo escolheu aquele caminho para encontrar novamente bem ali aos pés da montanha, a cruz e a cova que ele havia feito com as suas próprias mãos. Em frente a cruz, José abriu o livro, leu um trecho e voou com a noite. Só voltou, quando ouviu um barulho, um zumbido bem forte. Ele se levantou e ficou em alerta. José ouvia bem o silêncio. Era um homem sem pressa. Não havia perigo por ali, ele sabia. Mas naquele momento, ele sentiu um aperto no coração, um aperto, uma dor. Aquela cruz tão perto, as estrelas tão perto e ele ali sozinho com as suas lembranças. Foi quando o livro começou a pesar em sua mão, pesar de um jeito, de um jeito… E bateu aquele vento, aquele vento que José nunca havia sentido, o livro caiu aberto ao chão e as folhas foram virando, virando, virando, virando… E José viu ali preso nas páginas, um trevo. Um pequeno trevo ali esquecido. José pegou o trevo em suas mãos e cavou. Ele sabia o que tinha que fazer. E cavando novamente aquela cova, plantou o trevo em baixo da cruz. E foi nesse fazer, que logo amanheceu.

Nessa hora, José sentiu um sono profundo e adormeceu, dormiu seis horas, dormiu durante boa parte do dia, dormiu o dia inteiro. Quando despertou, olhou — como sempre olhava a seu redor — e viu que não havia mais cruz, nem trevo, e sim, uma árvore imensa, frondosa. José se aproximou e ficou parado em frente a árvore. Olhou para cima e viu a noite. Sorriu. A noite, então, desceu do céu e ganhou a forma de mulher. E a noite, em forma de mulher, disse a José que ele não mais dormiria com as estrelas, mas sim dormiria com o sol. José era o guardião noturno daquela árvore.

Na hora, José caiu ao chão e chorou. Chorou muito. Porque ele sabia que nunca mais veria Maria. O seu caminho estava traçado. José seria casado com aquela árvore, casado com a noite. José não teria escolha. E José agradeceu, apaixonado.

 

*José Maria José é um livro-caderno artesanal, com ilustração de capa e uma história confeccionado colaborativamente pelo mínimo diário. É o primeiro da série #MaZé – livros sobre Marias, Josés, Josés Marias, Marias Josés. Acesse nossa loja: http://loja.minimodiario.com.br

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