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louça lavada – carlos bressan

Penso na humanidade enquanto lavo a louça. Nesse momento de escrita, imagino outras tantas pessoas – milhares de tipos, formas e contornos – e todos em milhares de cozinhas, ou  não-cozinhas, lavando as suas louças  – ou latas, ou cristais. E segundos depois já vejo uma parte dessas gentes indo a um canto escrever sobre esse fato: a louça sendo lavada e a cabeça indo para a humanidade.


Talvez para os falantes da língua portuguesa seja só um ato falho entre a umidade da água e a semelhança com a palavra que agrega todos os humanos. Talvez seja o contato com a água que cause sensações místicas de reflexão e fluxo de ideias. Talvez seja só o tédio e a falta de concentração mesmo. Ou quem sabe, a gente pensa nisso o tempo todo, mas só nessa hora conseguimos ouvir essa parte da mente dizer algo.


Dessa vez havia pouca louça e não estava muito complicada de lavar, então só tive bons pensamentos para a humanidade. Pensei que talvez nós devamos ver esse conjunto gigantesco de gente como vemos apenas um indivíduo. Sabemos que um indivíduo erra, e aprende e conserta e erra outra vez. Daí, quis pensar nisso para a humanidade. Para quê pânico? Para quê pensa em guerra, ou falta da água, ou erros políticos, ou erros médicos ou qualquer outra calamidade pública. Aceitemos a sociedade como se fosse um único indivíduo que erra e que também acerta. Passo a passo.


Agora sem água a imagem não é mais tão simples. Também nem mais poética ou filosófica. Se tornou só imagem tola e úmida. E agora a humanidade me parece isso, aquela coisa tola e pouco poética de sempre. Mas quem sabe, a voz que eu não ouço enquanto não lavo louça esteja falando: as pessoas erram e tentam e acertam e corrigem e erram…

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