O que fazer com restos de papéis?
Uma ideia para criar seu próprio diário feito com papéis reutilizados
Mexer com papéis é lidar com sobras. Às vezes, a gente só precisa de um recorte e o resto da folha fica lá esquecido. Em outros momentos, uma impressão que dá errado ou um desenho não fica como a gente queria e vira tudo lixo. Mas veja, será que é lixo?
Aqui escrevo um recorte de nossa caminhada com restos de papéis e a construção de livros. E compartilho o vídeo da oficina Livro de restos diários como um convite a criar seu livro com a gente.
Quando os restos se tornam presença
O primeiro passo foi catar e “colecionar”. Basicamente, resgatamos esses papéis que sobravam.
Em oficinas ou criando nossos livros, papéis com pouco uso podem se tornar lixo. Qual é o destino desses papéis? Quando isso se tornou uma presença, quando realmente percebemos o tanto de descarte de papéis pouco utilizados começamos a nos mover.
Lembramos então do conto Chuva ao Longe, presente no livro Contos de lugares distantes, do autor australiano Shaun Tan. Na história, conhecemos o que acontece com os restos de papéis jogados fora, papéis e mais papéis descartados: bilhetes de amor, anotações de telefones, pequenas frases... Todos esses fragmentos durante as noites se movem por uma força misteriosa que as atrai e vai unindo papel em papel, formando uma bola cada vez maior e maior, até se tornarem algo: a lua cheia! Essa poética dos papéis tornados noite foi nos motivando a desejar, e se ao invés de lixo - ou imagens poéticas - os papéis usados realmente virassem livros?
O primeiro passo foi catar e “colecionar”. Basicamente, resgatamos esses papéis que sobravam. Um jeito de impedir que se torne lixo. Ao invés de fazer a bola de papel que vai pra lixeira, juntar as sobras e guardar em caixas para outros usos. (Observação: isso não é regra! É um alerta para não manter o descarte de restos de papéis no modo automático.) O passo seguinte foi se perguntar: Será que dá pra fazer um livro com restos de papéis? É certo que isso é possível, a questão não era bem essa, mas sim, se as pessoas vão dar valor a algo manual feito de restos. Se a gente trabalhar com esse material, ele deixa de ser lixo?
Convidamos as pessoas participantes de nossas ações a trabalharem com esses materiais coletados. A ver as possibilidades além do “feio”, do “novo”, do "bom''. Sabe como é, quando a gente toma uma certa distância das coisas e vê de outro jeito; quando trabalhamos com o que temos disponível e nos permitimos criar. Se vamos em uma oficina de encadernação e só tem papel de reuso, o que isso causa? Quais livros nascem?
Uma prática: livro de restos diários
Aqui te convido a trabalhar com os restos de papéis que tenha aí, participando da oficina que compartilhamos com as Fábricas de Cultura de São Paulo. Na oficina “Livro de restos diários”, paulo Oluá apresenta a costura panfleto e o reuso de papéis para criar livros poéticos inspirados em sensações e imagens da natureza. O vídeo completo está disponível! ;)
Daquilo que resta ser dito
O acesso justo a materiais e técnicas é algo fundamental na construção de uma sociedade mais igualitária e que a gente do mínimo diário acredita ser essencial um compartilhamento cada vez mais frequente!
O reuso é uma estratégia que utilizamos em nosso trabalho para gerar materiais sem ser exclusivamente pela compra. É um modo de limpar nossos poros para a criação com o disponível, para inventar meios de criar com o que está ao nosso redor no possível. É uma prática para nos desatar de estéticas que nos prendem em ver como "material para criação" apenas o que é comprado numa loja. Acreditamos que o mundo está vivo, e em construção.
Quando falo de trabalhar com restos de papéis e com aquilo que é possível, de modo algum estou romantizando falta de recursos, ou ideias de que você tem de se virar apenas com o que tem e se ajustar a isso. O acesso justo a materiais e técnicas é algo fundamental na construção de uma sociedade mais igualitária e que a gente do mínimo diário acredita ser essencial um compartilhamento cada vez mais frequente! #OutrasVozes
Quero enfatizar que em um mundo estimulado para o consumismo, muitas vezes apenas o que é novo, recém comprado, “da moda” parece ter valor. E vemos aquilo que já tem algum uso ser descartado, mesmo quando ainda pode ser utilizado e/ou ser material para outras criações. Onde está nosso corpo percebendo a matéria como potência para a criação?
Para finalizar, é importante ressaltar que quando reutilizamos materiais, não estamos nos pautando na ideia de “sustentabilidade”. Quer dizer, é sim importante não dar apenas um uso as coisas; e prolongar a vida dos materiais é uma prática de sustentabilidade ambiental. Mas isso por si só não basta. Infelizmente o acesso a papéis normalmente vem de fábricas que trabalham com monocultura de eucaliptos e pinheiros, e sabemos que monocultura é algo nem um pouco sustentável. Então, reuso é uma estratégia, mas é imprescindível abrirmos nossas ideias e ações para propor outras, não?
vinicius
ME AVISA
Para RECEBER UM AVISO das vagas para nossas oficinas, acesse: http://minimodiario.com.br/meavisa
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